terça-feira, 10 de março de 2009

as vezes, algum sinal é muito bem vindo, a salva almas...



Chegou em casa bêbado, jogou os sapatos no chão da sala, a camisa no corredor, e se jogou em sua cama.
- Eu desisto! Este mundo é uma droga, organismo doente.
Chorou.
Chorou.
Levantou da cama, e gritou, olhou para a janela e pensou em pular.
-Deve doer muito cair lá em baixo, e mais dor é o que não preciso.

Foi até a cozinha, trombando nos móveis, não via direito, os olhos estavam embaçados. Pegou a faca para cortar um pedaço de bolo, alguma coisa precisava comer. Pensou eu se cortar.
- Detesto sangue, e deve doer, mais dor eu não preciso.

Foi ao banheiro tomar um banho, estava tão cansado, queria dormir, na verdade queria dormir pra sempre. Encheu a banheira. Pensou em se afogar.
- Acho que não consigo me segurar lá em baixo, não é Senhor?! Além do mais deve doer, e eu não quero mais dor.

Foi até a varanda, se sentou na sua cadeira preferida, aquela que sempre lhe fazia companhia quando chegava em casa daquele jeito. Olhou para baixo. Morava no 13° andar.
- Numero de grande sorte, não?! Ironizou.
Pensou em se jogar de lá mais uma vez.
- Bem, seria uma dor grande, e se tiver sorte, mesmo morando neste andar de azar, poderei morrer em segundos. Seria minha última dor.Chegou perto da grade da sacada, subiu, olhou para baixo e via pingos de gente andando, as vezes escutava risos, bozinas, mesmo estando no 13° andar.
Olhou para cima, viu o céu. Uma estrela piscou.
- Você se esqueceu de mim Senhor?
A estrela piscou.
- É que as vezes todo esse peso, e responsabilidades, aquelas que eu não precisava, me esmagam. E também tem tantas outras coisas. Já faz um tempo que eu não vivo.
Chorou.
Mais uma estrela piscou.
- Pode ser errado, sei que é errado me entregar. Mas aquela minha dor, aquela velha dor, não cura. Sabes que tento, há anos tento esquecer, mas as raízes ainda não secaram. Hoje eu estava num bar, sim aquele em que fiz do garçom meu amigo, e ele me disse que certas feridas, aquelas mais profundas nunca se curam, que eu tenho que aceitar. Tem anos que isso aconteceu, sei. Mas eu perdi toda minha alegria naquela noite, ainda ouço os gritos de dor, de susto. Sabes que morri também? Poisé. E também ele me disse que se aconteceu era porque é certo, e que Deus existe. Como quer que eu aceite que isso é certo? E também, se você existe, me mostre que sim. Pois eu cansei de procurar em cada canto. Em cada coisa errada eu procurei um acerto, e o que eu encontrei? Erros e só. Senhor mande-me alguns sinais de que devo continuar, de que um dia isso vai passar, essa dor sem tamanho..

Desceu das grades, olhou pra baixo, a última lágrima desceu. Olhou para o céu não viu nenhuma estrela. Fechou os olhos. Abriu-os novamente e parecia que uma chuva de brilho vinha do céu, todas as estrelas caiam. Lembrou da noite em que 'perdeu' a vida, das promessas que fizeram, da estrela cadente que caia e do pedido que recebeu:
- Eu morreria por você - ele disse.
- Quero que viva sempre por mim - ela retrucou sorrindo.

Fechou os olhos mais uma vez e quando os abriu novamente a chuva de estrelas tinha cessado, ele sorriu.

A campanhinha tocou. E pela primeira vez em tempos sabia que era algo bom.


Lorena Daniela

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